O titânio é considerado o padrão-ouro para implantes dentários devido à combinação de alta biocompatibilidade, resistência mecânica e capacidade de osteointegração. Sua interação favorável com o osso promove fixação estável para suportar forças mastigatórias. Além disso, sua resistência à corrosão no ambiente oral contribui para durabilidade dos implantes. Estudos clínicos de longo prazo mostram altas taxas de sucesso, consolidando o titânio como escolha confiável em reabilitações implantossuportadas.
Apesar da ampla aceitação, existem relatos raros de reações adversas imunológicas ao titânio. A prevalência na literatura é baixa, geralmente entre 0,2% e 1% em pacientes com implantes, com variações entre estudos. O mecanismo mais comum é a hipersensibilidade tipo IV, mediada por células T, que pode causar inflamação peri‑implantar, eritema, edema e, em alguns casos, falha na osteointegração. Manifestações sistêmicas são incomuns.
O diagnóstico é desafiador pela ausência de teste-ouro padronizado. Utilizam-se patch test (epicutâneo), testes de ativação de linfócitos (LTT) e MELISA, além de análise clínica dos sinais e sintomas locais e temporais. Sensibilidade e especificidade dos testes variam, exigindo interpretação cuidadosa. Fatores que aumentam suspeita incluem histórico de alergia a metais, exposição ocupacional, sexo feminino e predisposição atópica ou familiar.
Diante da possibilidade de alergia ao titânio, alternativas como implantes de zircônia têm sido desenvolvidas. A zircônia, cerâmica branca, oferece vantagens estéticas, baixo potencial alergênico e superfície com menor adesão bacteriana. Entretanto, apresenta limitações mecânicas, como menor tenacidade e flexibilidade, que influenciam desempenho em cargas mastigatórias intensas ou hábitos parafuncionais. Estudos clínicos de curto e médio prazo indicam taxa de sobrevivência promissora (90–95%), mas dados de longo prazo ainda são escassos.
O manejo de casos suspeitos deve ser multidisciplinar, envolvendo dentista/implantodontista, alergologista e, se necessário, imunologista. Inicialmente, realiza-se anamnese e exame clínico, seguido por exames complementares conforme indicação. Estratégias conservadoras incluem monitoramento, controle de infecção, higiene oral otimizada e terapêutica anti-inflamatória quando adequada.
Se houver evidência clara de hipersensibilidade associada à falha do implante, a remoção pode ser indicada, seguida de exame histopatológico e planejamento para reabilitação com alternativas, como zircônia, ou próteses que minimizem exposição ao metal. Decisão de reimplantar ou usar prótese convencional considera qualidade óssea, necessidades funcionais e risco de recorrência.
Identificar fatores de risco antes da colocação do implante, discutir materiais e estabelecer protocolo de acompanhamento são fundamentais para reduzir complicações. Avanços em modificação de superfícies e ligas revestidas podem minimizar respostas adversas, melhorando integração e longevidade.
Embora rara, a alergia ao titânio exige vigilância. Conhecer alternativas, realizar testes diagnósticos com critério e abordagem multidisciplinar garantem manejo seguro, suportado em evidências e práticas clínicas sólidas.
A alergia ao titânio, apesar de incomum, demanda atenção cuidadosa e multidisciplinar. Conhecimento sobre diagnóstico, manejo e alternativas como implantes de zircônia é fundamental para garantir sucesso e segurança nas reabilitações implantossuportadas.