Os clareadores mais usados na odontologia — peróxido de hidrogênio e peróxido de carbamida — atuam por oxidação. Durante a decomposição, liberam radicais livres e espécies reativas de oxigênio que fragmentam cromóforos no esmalte e na dentina, promovendo o clareamento visível.
Estudos in vitro sugerem potencial genotóxico desses radicais. No entanto, a boca possui defesas naturais (peroxidases, catalase) que degradam rapidamente o peróxido, reduzindo a exposição dos tecidos. Além disso, as concentrações clínicas são muito menores que as usadas em experimentos.
Por isso, os achados laboratoriais de altas doses não refletem o uso real. Ainda assim, o contato direto com gengiva e mucosa deve ser evitado, pois pode causar irritação. Técnicas profissionais usam isolamento com barreiras ou diques para proteger os tecidos moles.
É essencial distinguir estudos laboratoriais de estudos clínicos em humanos:
Laboratório e animais: alguns indicam genotoxicidade com doses elevadas e exposição prolongada.
Humanos: revisões sistemáticas e meta-análises não mostram sinais de carcinogenicidade com o uso odontológico supervisionado.
Um exemplo: meta-análise (Journal of Prosthetic Dentistry, 2022) avaliou danos genéticos antes e após clareamentos e não encontrou aumento significativo após 30 dias (diferença média 0,48; IC95% −1,49 a 2,46; P=0,63).
A IARC considera a evidência humana inadequada para afirmar carcinogenicidade do peróxido, indicando:
existe um risco teórico em laboratório,
mas não há comprovação clínica em humanos.
Autoridades adotam medidas de precaução:
União Europeia: até 0,1% é de venda livre; entre 0,1% e 6% apenas por cirurgiões-dentistas; acima de 6% é proibido como cosmético.
EUA: o FDA regula formulações e a ADA recomenda supervisão profissional em concentrações maiores.
Essas regras evitam uso inadequado e protegem a mucosa sem limitar o acesso ao tratamento.
Os efeitos mais frequentes são:
sensibilidade dentária temporária
irritação gengival leve e reversível
Para reduzir riscos, recomenda-se:
isolamento eficaz (dique, barreiras gengivais ou silicone)
avaliação prévia da saúde bucal (tratar cáries antes do clareamento)
ajustes no tempo de aplicação conforme a sensibilidade
instruções domiciliares claras e retorno imediato caso os sintomas persistam
Faltam estudos epidemiológicos longitudinais de grande porte sobre associação entre clareamento e neoplasias bucais ao longo de décadas. Pesquisas futuras devem priorizar coortes prospectivas, interações com outros carcinógenos e avaliações de longo prazo. Na comunicação, é importante diferenciar risco teórico de risco clínico demonstrado, explicando mecanismos, evidência clínica atual e medidas profissionais que reduzem riscos. Sugere‑se rotulagem mais informativa e campanhas educativas sobre concentrações, modo de uso e quando procurar orientação profissional.
O clareamento dental é eficaz e seguro quando supervisionado por cirurgião-dentista.
Laboratório: indica risco teórico.
Clínica: não há evidência de carcinogenicidade.
Com técnicas adequadas de isolamento, cautela e orientação profissional, o clareamento segue como uma opção estética confiável — enquanto a ciência continua monitorando seus efeitos a longo prazo.